Campos vê ‘ditadura’ no setor elétrico

São Paulo – O pré-candidato do PSB à Presidência da República, Eduardo Campos, disse nesta segunda-feira, 26, em São Paulo, que o Brasil vive uma “ditadura” no setor elétrico, cujas decisões ficam concentradas nas mãos da presidente Dilma Rousseff e de mais “dois assessores”.

A uma plateia de cerca de 200 empresários, durante evento promovido pelo Estado e pela agência Corpora Reputação Corporativa na capital paulista, Campos voltou a acusar a presidente de não dialogar com o setor.

“O planejamento foi completamente relegado às decisões da presidenta e de mais dois assessores. Há uma ditadura no setor elétrico absoluta. Quem não concorda não é ouvido”, afirmou o pré-candidato do PSB, partido que até setembro do ano passado fazia parte da base aliada do governo federal.

Campos repetiu a estratégia de culpar Dilma diretamente pelo que chama de atual crise no setor energético, já que a presidente foi ministra de Minas e Energia durante o primeiro governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em tom de ironia, disse que “nem mesmo se o País tivesse reunido talentos para dizer ‘vamos complicar a economia’” teriam conseguido resultados “melhores” do que os atuais. “Perdemos a governança e a capacidade de planejar”, afirmou.

Ele também voltou a acusar o governo de esconder a existência do problema no setor da sociedade por interesse eleitoral. “A população está sendo endividada sem ter consciência disso.”

A atual crise no sistema energético, segundo Campos, é uma combinação de chuvas escassas e nível baixo de reservatórios, mas também de decisões tomadas pelo governo que considera equivocadas, como a de reduzir a tarifa de energia elétrica em 2012. O governo teve de anunciar um pacote de R$ 12 bilhões para socorrer as distribuidoras de energia. A conta será dividia pelo Tesouro, pelo próprio setor elétrico e pelos consumidores, mas o impacto sobre as contas de luz só deverá ocorrer em 2015, depois das eleições.

Com relação à Petrobrás, Campos disse que o controle de preços dos combustíveis mostra que o governo faz “política macroeconômica com as estatais”, e que essas medidas têm causado sérios danos ao setor sucroalcooleiro. “É preciso devolver governança à Petrobrás, blindá-la da politicagem.”

Campos não propôs nenhuma medida concreta, mas defendeu que é preciso retomar o planejamento estratégico para o setor.

Líder de uma legenda que leva a bandeira “socialista” no nome, ele iniciou o seu discurso para a plateia de empresários afirmando que gostaria de “deixar claro” que, se for eleito presidente, “não terá nenhum tipo de preconceito contra o capital privado e contra o lucro” e que vai dirigir o País através da lógica do “sistema capitalista”.

Agronegócio. Durante o evento, Campos também defendeu as posições da sua pré-candidata a vice, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva. As bandeiras ambientais de Marina costumam ser vistas com resistência por representantes do PIB nacional, especialmente ligados ao agronegócio.

Questionado sobre como iria convencer o setor de que a ex-ministra não causaria entraves, o presidenciável afirmou que ter Marina como pré-candidata a vice-presidente do Brasil representa uma “grande oportunidade” e não uma “ameaça” ao agronegócio. “Acho que há aí uma grande oportunidade em vez de uma ameaça. Até porque vejo uma preocupação permanente de se ter uma produção sustentável”, disse. “Quem vier dizer que vai dar para fazer agronegócio hoje sem uma visão de sustentabilidade estará mentindo.”

Campos comparou a resistência em relação a Marina à preocupação que os grandes empresários tinham em 2002, quando Lula estava prestes a vencer a sua primeira eleição presidencial.

“Eu via o empresariado brasileiro também com grande preocupação durante a campanha do ex-presidente Lula. Preocupação que se assemelha ao que se tenta passar hoje em relação a Marina. No final, muitas pessoas que tinham esse mesmo tipo de preocupação tiveram uma surpresa muito agradável. Não foi uma surpresa para mim, como não vai ser surpresa ver o agronegócio compreendendo o quanto é importante a Marina Silva se tornar vice-presidente do Brasil”, disse.

Reforma política. Ao comentar os prejuízos que os atrasos em obras causam aos cofres públicos, o pré-candidato afirmou que não será possível “resolver o problema da governança no Brasil se não resolver o problema político”. O presidenciável do PSB repetiu que, caso eleito, pretende acabar com a troca de favores e cargos que se estabeleceu no presidencialismo de coalizão e que vai romper com “as velhas raposas” da política.

Ele argumentou ainda que a reforma política não é colocada em prática por causa da atual conjuntura. “Cheguei à conclusão de que a reforma não sai porque não afastamos os interesses imediatos das pessoas envolvidas. Na reforma política, antes de discutir sistemas, temos que discutir o mandato de cinco anos sem reeleição.”

Fonte: Estadão – 26/05/2014

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