Mudanças climáticas e as decisões de investimento

As mudanças climáticas ganham cada vez mais destaque na mídia em todo o mundo. A intenção de saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris e o compromisso voluntário da Suécia de se tornar neutra em carbono até 2045 demonstram a polarização em um tema cujo desafio é unir sociedade civil, empresas e governos para promover a transição para uma economia de baixa emissão de carbono.

As consequências desse fenômeno são menos conhecidas do público em geral: intensificação de eventos climáticos extremos (como secas e enchentes, entre outros), alteração dos padrões de precipitação, aumento na transmissão de doenças e alteração na produtividade agroflorestal são alguns dos impactos previstos pelos cientistas do Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês).

Como estimar os efeitos desses cenários nos resultados das empresas? Quais serão beneficiadas e quais serão prejudicadas? De que forma e em que prazo?

O desafio compartilhado pelos investidores contemporâneos está em investir hoje antecipando potenciais riscos e oportunidades relacionadas ao tema. As mudanças climáticas impactarão regiões e setores econômicos em diferentes formas e graus de intensidade. Porém, é possível quantificar e incorporar tais impactos nos cenários de investimento, o que pode fazer a diferença no retorno de médio e longo prazo.

Apenas os eventos climáticos extremos já têm potencial para ocasionar danos significativos às atividades econômicas, à infraestrutura e à saúde da população. Globalmente, estima-se que entre 1996 e 2015, tais perdas econômicas somaram US$ 3 trilhões, ou cerca de 0,3% do PIB mundial do período. Esses eventos extremos podem danificar ativos fixos das empresas, assim como causar possíveis perdas físicas e interrupções na produção.

Os setores mais vulneráveis a esse tipo de risco são aqueles intensivos em bens de capital, como o setor industrial, de energia, concessões rodoviárias e saneamento.

O IPCC concluiu, em seu último relatório ("Climate Change 2014: Synthesis Report"), que os principais impactos nos ciclos hidrológicos das regiões brasileiras serão uma maior aridez no centro do Nordeste e no sul da Amazônia, além do aumento do nível de chuvas no sul do país.

De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), as atuais previsões de vazão das bacias hidrográficas brasileiras indicam que não serão afetadas apenas águas superficiais, mas também a recarga subterrânea e dos aquíferos. Estima-se uma redução de 70% na recarga das águas subterrâneas do Nordeste brasileiro, até 2050, em comparação com os anos 2000.

A mudança no regime e padrões de chuva deve afetar a disponibilidade hídrica para diversos setores, o que pode levar a um aumento de custos ou até mesmo interrupção de atividades. Setores mais intensivos no consumo de água, bem como geradoras de energia elétrica e saneamento, devem ser os principais afetados e já vêm sendo impactados pela mudança no padrão de chuvas. Esse risco, portanto, mostra-se relevante já no curto prazo.

Como buscar uma solução para minimizar esses impactos? Segundo o IPCC, a estratégia mais eficaz para mitigar esses riscos está na precificação do carbono, que consiste em atribuir um custo aos principais impactos gerados pelo aumento de gases estufa na atmosfera.

O Fundo Monetário Internacional ("Climate, Environment, and the IMF", de 2016) também é favorável à medida, visando estimular uma economia baseada em energias renováveis e tecnologias limpas.

A tendência de médio prazo de precificação do carbono pode afetar a estrutura de custo das companhias intensivas em emissões, como empresas do setor de petróleo e gás, indústria pesada e geração de energia termelétrica.

Por outro lado, alguns setores de baixa emissão ou com emissão negativa, como o setor florestal e de geração de energia renovável, podem auferir receita comercializando créditos e direitos de emissão de carbono em mercados organizados.

Atentar à necessidade de compreensão destes desafios, dimensionar os riscos e identificar as oportunidades representa um diferencial para a perenidade dos negócios e para a identificação de oportunidades de investimento no contexto brasileiro. Desde 2010, a Itaú Asset Management, por exemplo, conta com uma metodologia proprietária para a integração de questões socioambientais na avaliação de empresas para estratégias que envolvam crédito e renda variável. Os estudos e informações produzidas são parte integrante do processo de investimento de todos os fundos geridos pela Itaú Asset Management.

Luiz Felix Cavallari Filho é gestor de portfólio da Itaú Asset Management

Alexandre Gazzotti é analista da Itaú Asset Management

 

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Fonte: Valor Econômico.

 

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