Fim do desconto para energia faz IPCA de maio subir para 0,46%, preveem analistas

A dissipação do efeito benigno sobre a inflação dos descontos dados em abril nas contas de luz é o principal fator por trás da aceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. Conforme a média de 24 estimativas colhidas pelo Valor Data entre consultorias e instituições financeiras, o indicador avançou de 0,14% no período anterior para 0,46%. Apesar da alta, o percentual é ainda significativamente inferior ao registrado em maio de 2016, 0,78%.

 

As projeções para o dado que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga hoje variam de 0,32% a 0,51%. Se confirmada a média das expectativas, a inflação acumulada em 12 meses cairá abaixo de 4% pela primeira vez desde junho de 2007, a 3,75%.

 

O economista Fabio Romão, da LCA Consultores, calcula aumento de 10,06% no item energia em maio. Uma variação dessa magnitude, diz a equipe do Santander, contribuiria com 0,35 ponto para IPCA cheio do período, projetado pelo banco em 0,47%. Em abril, as contas de luz tiveram desconto de até 20% para compensar cobrança indevida que vinha sendo feita desde o ano passado de um encargo relacionado à usina de Angra 3. Com o fim do abatimento e a aceleração do item, o grupo habitação será a principal pressão sobre o IPCA em maio, com alta de 2,52%, conforme os cálculos da LCA.

 

Devido à temporada de troca de coleções no varejo, os preços de vestuário, por sua vez, subirão mais, de 0,48% em abril para 0,95% em maio, estima Romão. Em janeiro, março e abril, a inflação do grupo oscilou "bem abaixo da sazonalidade". "Isso mudou agora", pondera o economista. O ganho da renda provocado pela própria desaceleração dos índices de preços e a liberação dos recursos das contas inativas do FGTS pode ter aquecido o consumo no mês passado, ele avalia.

 

O grupo alimentação e bebidas, por outro lado, ajudou o IPCA e impediu aceleração maior no período, diz o Santander. "Alimentação no domicílio deverá apresentar leve deflação, refletindo a sazonalidade de hortifrúti", dizem os economistas em relatório.

 

O comportamento benigno dos preços de alimentos, diz Romão, é responsável pelas repetidas surpresas positivas que têm sido trazidas pelos Índices Gerais de Preços (IGPs). Depois do recuo de 0,93% em maio, o IGP-M deve experimentar nova queda neste mês, diz o economista. Como 60% dele é composto por um índice de preços do atacado, o IPA, a expectativa é que esse alívio continue aparecendo no IPCA, que reflete a variação dos preços aos consumidores. Graças a esse movimento, em maio o grupo alimentação e bebidas voltou registrar deflação, de 0,03%, ele estima, após alta de 0,58% em abril.

 

Os economistas do banco Haitong Jankiel Santos e Flavio Serrano observam que sua projeção para o IPCA do mês passado, de 0,48%, coincide com a expectativa para as três principais medidas de núcleo de inflação. A alta de maio, eles destacam, é pontual. Assim, o quadro inflacionário permanece "extremamente positivo". "Tanto é que a trajetória interanual continuará sendo de retração, com o índice cheio apontando variação de 3,8% e a média dos núcleos recuando para 4,8%", dizem em relatório.

 

Em junho, o IPCA voltará a desacelerar. Com a mudança da bandeira vermelha para verde anunciada pela Aneel, o índice cheio sofrerá deflação de 0,09% no período, estima Romão, a primeira depois de 11 anos. Em seu cenário, a bandeira permanece verde em julho, graças ao volume elevado de chuvas que vem sendo registrado nos últimos dias, e volta a ficar amarela em agosto, mês em que o IPCA deve atingir seu nível mínimo em 2017, 3,08%.

 

Fonte: Valor Econômico.

 

 

 

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