Migração de consumidores especiais deve cair neste ano

A forte onda de migração de consumidores especiais para o mercado livre de energia praticamente esgotou o lastro de energia incentivada existente para 2017, segundo um levantamento feito pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e obtido com exclusividade pelo Valor. 

 

A energia incentivada é aquela gerada por pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) ou de fontes especiais, como eólica, biomassa e solar. A falta de lastro desse tipo de energia aumenta ainda mais a diferença entre o preço desses contratos em relação aos de energia convencional, que já tiveram alta nos últimos meses. Com isso, a migração de consumidores para o mercado livre deve passar por uma pausa neste ano.

 

Ao longo de 2016, a CCEE registrou 4.096 novas cargas de consumidores especiais ­ aqueles com demanda entre 0,5 megawatts (MW) a 3 MW e tem o direito de adquirir energia de fontes incentivadas. Desse total, 91% são de pequeno porte, com consumo de até 1 megawatt (MW) médio

 

Esse movimento representou um acréscimo de 1.732 MW médios de consumo de energia de fontes incentivadas em 2016. 

 

Inicialmente, a CCEE calculava que haveria uma sobra de 815 MW médios ainda, que poderia suportar a continuação da migração de consumidores especiais. As mudanças em contratos no mercado livre, entre outros fatores, reduziram essa sobra para 140 MW médios em 2017

 

"No nosso entendimento, pela situação que observamos no primeiro trimestre, não haveria mais espaço para migração em 2017", disse Roberto Castro, conselheiro da CCEE.

 

Nos primeiros meses do ano, a demanda por esse tipo de energia já chegou a superar a disponibilidade de lastro, devido à estratégia de sazonalização das comercializadoras e geradoras de energia. Em janeiro, por exemplo, a garantia física disponível de fontes incentivadas somava 6.925 MW médios, contra 7.195 MW médios contratados.

 

De acordo com Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia, um dos motivos para o déficit de lastro de energia incentivada nesse início de ano é a sazonalização dos contratos a partir de maio, quando entrarão em vigor novos parâmetros de aversão ao risco no cálculo do preço de liquidação das diferenças (PLD, referência das operações no mercado à vista de energia). 

 

"A questão não é tanto a disponibilidade de incentivada, mas o preço da energia", disse Vlavianos.

 

Como há oferta de energia de fontes convencionais, o cenário reforça ainda mais a diferença de preços entre as fontes, inviabilizando a continuação das migrações de consumidores especiais. 

 

"No começo deste ano, a energia incentivada já ficou muito mais cara que a convencional, o que retrata que há uma oferta menor", disse Reinaldo Ribas, gerente de gestão de clientes da Delta Energia. Segundo ele, a diferença entre as duas fontes está na faixa de R$ 50 a R$ 60 por megawatt­hora (MWh).

 

A tendência é que a diferença vá subindo até que a migração do consumidor especial fique inviável, explicou Ribas. Há uma "liquidez razoável" de contratos de incentivada para 2018 e 2019, "mas vão ter que pagar o spread, o preço alto", afirmou. 

 

"Estamos com alguns processos de migração em aberto, mas é importante observar que houve uma queda acentuada no consumo médio esperado desses consumidores", disse Castro. A CCEE tem 630 processos de migração em aberto neste momento. 

 

Ainda há consumidores querendo migrar, "mas a maior parte enxerga que o preço pode estar em um momento de alta. Quem está com o processo aberto já tem energia contratada", disse Ribas. 

 

Segundo Vlavianos, o movimento de migrações sofreu uma redução nos últimos meses. "Migrar um consumidor com esse preço, nesses patamares bem mais altos do que tínhamos antes, é um movimento que não vale muito a pena fazer", disse ele. Ele lembrou que o cenário no início do ano passado era outro, com possibilidade de economia mínima de 20% a 25% com a adesão ao mercado livre, devido aos preços mais baixos.

(Camila Maia | De São Paulo)

 

Fonte: Valor Econômico

 

No comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *