State Grid vai criar nova distribuidora no Brasil

A gigante elétrica chinesa State Grid planeja criar uma nova empresa no Brasil para gerenciar os ativos de distribuição, quando concluir a aquisição das participações no grupo CPFL Energia, uma operação que pode chegar a R$ 25 bilhões – a maior aquisição na área de distribuição desde o período de privatizações no setor, na década de 1990. A nova empresa poderá englobar eventualmente ativos como a Celg Distribuição (Celg D) e outras distribuidoras da Eletrobras, caso a chinesa seja bem sucedida na aquisição dessas companhias.

 

"Não sabemos como irá acontecer. Estamos construindo uma nova empresa que cuidará do negócio de distribuição", disse Cai Hongxian, presidente da State Grid Brazil Holding (SGBH), em entrevista ao Valor. Segundo ele, a nova empresa será como uma "irmã" da SGBH e será subordinada à sede do grupo, em Pequim.

 

O executivo não soube indicar uma data prevista para a conclusão da aquisição da CPFL. Com a decisão da Previ e do Energia São Paulo Fundo de Investimento em Ações (Energia SP) de vender suas participações na elétrica, a State Grid concluiu a compra do bloco de controle, ficando com 53,3% da empresa, por R$ 13,5 bilhões. O próximo passo será a realização de oferta pública de ações aos minoritários, que pode ficar para 2017.

 

Cai lembrou que a aquisição da participação de 23,6% da Camargo Corrêa na CPFL, que marcou a entrada da chinesa na companhia elétrica, já foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). O acordo, porém, aguarda pelo menos outras duas aprovações, sendo uma da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e outra do governo brasileiro, já que a CPFL, que terá agora um controlador estrangeiro, possui área de concessão na fronteira do Rio Grande do Sul com outros países (Argentina e Uruguai).

 

Segundo o executivo, o grupo chinês elegeu o Brasil como o seu principal alvo de investimentos fora da China. A companhia, que vai investir R$ 15 bilhões nos próximos três anos em projetos já contratados no Brasil, avalia novas aquisições no país e desenvolver projetos do zero, a partir de leilões de linhas de transmissão. Nesse sentido, a elétrica estuda participar do próximo leilão marcado para o fim deste mês.

 

"Estamos em vários lugares do mundo, mas o Brasil é o principal país para investimentos da State Grid fora da China hoje. Minha sede está prestando muita atenção na nova estratégia, em como desenvolver nossos negócios no Brasil", afirmou Cai.

 

Com R$ 1 bilhão de faturamento anual (conforme dados referentes a 2015. No primeiro semestre deste ano, a cifra foi de R$ 708 milhões), o Brasil já responde por quase 20% das receitas da State Grid fora da China.

 

O grupo, responsável pela construção dos dois linhões que escoarão energia da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA), para a região Sudeste, com cerca de 4,6 mil km de extensão, prevê investir R$ 5 bilhões em 2017. Desse total, R$ 2,8 bilhões serão com capital próprio e R$ 2,2 bilhões em financiamentos.

 

Cai, que participou na última semana de reunião no Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) sobre o leilão Celg D, explicou que todas as operações de aquisição no Brasil são conduzidas e decididas por uma equipe especial na sede do grupo, em Pequim. O braço brasileiro apenas auxilia fornecendo informações para a holding.

 

Além da Celg D, que deve ir à leilão em novembro, os principais novos negócios no radar da chinesa são a privatização das outras seis distribuidoras da Eletrobras, em 2017, e ativos de transmissão da espanhola Abengoa. Questionado sobre este assunto, Cai reforçou que todo negócio de aquisição é tratado por Pequim, mas pontuou que o caso da Abengoa ainda depende de aprovação de assembleia de credores da empresa, que está em recuperação judicial no Brasil.

 

A State Grid espera obter em janeiro de 2017 a licença de instalação para iniciar a construção das subestações conversoras do segundo sistema de transmissão de Belo Monte, que ligará a usina até Nova Iguaçu (RJ), com 2,5 mil km de extensão. A companhia submeteu os estudos de impacto ambiental (EIA-Rima) ao Ibama em março deste ano e está realizando as últimas audiências públicas necessárias para discutir o projeto.

 

A expectativa, segundo Cai Hongxian, é obter a licença de instalação para a implantação da linha de transmissão em março do próximo ano. A data é considerada fundamental pela companhia, para aproveitar a janela de oportunidade do período seco – entre abril e novembro.

 

O segundo linhão de Belo Monte tem investimentos previstos de R$ 7 bilhões, de acordo com a Aneel. O executivo, porém, lembra que é preciso acrescentar a esse valor outros 25% relativos a inflação e custos de financiamento, entre outros itens. A linha está prevista para entrar em operação em dezembro de 2019.

 

O primeiro linhão de Belo Monte, do qual a State Grid possui 51% de participação, em parceira com Furnas (49%), está com as obras em andamento. Com R$ 5 bilhões de investimentos estimados pela Aneel e 2,1 mil km, a linha está prevista para iniciar operação em fevereiro de 2018.

 

Instalada no país desde 2010, a State Grid tem 7,6 mil km de linhas de transmissão em operação e 9,8 mil km em construção, quase 20% de toda a rede elétrica brasileira.

 

Fonte: Valor Econômico

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